Leituras e mais leituras nesses meus 45 anos.
Não o tanto que gostaria de ter lido, mas também nem tão pouco que não tenha me
causado revoluções internas memoráveis. E leituras diversas, entre livros,
filmes, revistas.
Ao assistir o filme A CULPA É DAS ESTRELAS,
inevitavelmente chorei. A lembrança de minha sogra que faleceu neste ano em
abril se fez presente. Chorei pela vida esvairindo-se, a cada dia em um abraço
fúnebre, a cada dia o mundo do silêncio chegando. A tomada de consciência, a
angustia, a despedida,... tudo muito difícil.
Mas vi a dignidade, não importa por quanto
tempo. Os jovens estavam em um lar, com seus pais, acompanhamento médico,
alimentação, uma cama, que dizer um quarto e que quarto, viagem e acima de tudo
o AMOR muito presente. E então fui solidária a dor de cada um que perde um ente
querido desta maneira
Longe de desprezar ou diminuir o sofrimento,
mas sendo sincera, o filme me remeteu, já que a morte é inevitável, que antes
de tudo, sobressaia a dignidade e isto é nítido no romance, na pequena
trajetória de vida, na questão de oportunidades.
Ao ler o livro A QUEDA PARA O ALTO, chorei,
aquele choro que sangra a alma. Fiquei dias e dias que não pensava em outra
situação se não a de Sandra Mara. Contei seus dias de passagem por esta
caminhada, apenas 20 anos, o ano que morreu 1982, entre outras reflexões.
Quanto tempo se passou e ainda vejo, convivo com muitos e muitos jovens tão
presentes em minha vida e tão ausentes para a eternidade.
A questão do menor de idade (na linguagem
atual, a criança e o adolescente), em situação de risco, desfavorável,
injustiça social, sempre me trazem a tona sentimentos de muita dor, revolta,
questionamentos, ausências,...
Ao tomarmos posse da leitura deste livro, bem
como, Capitães da Areia de Jorge Amado, livros escritos na década de 80 e
vivermos a realidade dos anos de 2014, com pequenos avanços, movem-me de uma
indignação e tristeza.
A vida de Sandra, tão inocentemente dolorida
e poeticamente escrita por ela, em forma autobiográfica, de depoimento,
denúncia, sofrimento desde tão pequenina, me fez, faz e sempre me fará chorar e muito, enquanto eu
ainda ter a certeza que em algum lugar, em um espaço indigno uma criança, um ser vivente
sobrevive.
Sandra Mara e as suas precoces perdas para a
eternidade, a falta de amor e carinho, a ausência de responsabilidade ou esta somente
atrelada a obrigação e olhe lá, a sua vida de
andarilho, veio em blocos, todos que encontro por aí, durante o dia, por
vezes e vezes, em noite escura, em um
espaço público, nas ruas desertas, calçadas, becos, escadarias,... Sozinhos, em sua maioria, levando seus irmãos
e responsabilizando-se por estes, em idade obviamente de serem cuidados e não
de cuidar.
Então ao tomarmos posse desta história, real
e presente, choro por lágrimas e alma e me sinto em um mundo desumano, regido
por seres incompetentes. A própria tecnologia que agora uso para descrever este
fato, entre outros avanços que o homem criou, tornam-se supérfluos adereços a importância da essência
da vida, dignidade.
E mais uma vez quero me firmar em um
compromisso humano de ver todo ser humano de forma holística perante todos
aqueles que estão em condições desfavoráveis, aos esfarrapados do mundo (Paulo
Freire), agindo em promoção da dignidade, justiça social, bem estar, qualidade
e direito a vida.
As atrocidades acometidas por profissionais
envolvidos na vida de Sandra Mara e tão bem relatadas pela doce e humana
garota, como a tortura, crueldades no corpo e na alma, o desprezo, a fala
maldita que sentencia ou marca com rótulos, o autoritarismo ou apoio aos
praticantes, que nunca pertençam a meu ser. Profissionais incapazes de ver sua inocência,
ausência de políticas públicas, de um lar, estrutura digna para desenvolver-se,
infelizmente me trouxe a tona inúmeros profissionais da atualidade que repetem
atos, falas a cada dia mais veementemente.
E também vejo gente gritando por ações de
condenação perpétua ou não, `as crianças e adolescentes, como proposta de
salvação a humanidade, olhem e vejam o quanto ainda se faz necessário a luta na
garantia e fazer em prol de uma vida digna, e isto, em pleno 2014.
Por isso, qualquer bandeira de trancafiar,
exterminar,... não me convence que é o bastante a ser feito e sim me aborrece.
Lutemos sim, antes pelo cumprimento da legislação tão eficazmente descrita no
papel, tão eloquentemente proferida na voz de alguns demagogos.
Meu Deus,... quantas Sandras, Pixotes,
Capitães de Areia, Cidadãos de Papel, veremos ser estupidamente regidos, por
quem tem o dever de fazer valer a dignidade a vida.
Ler o livro, poderá despertar em alguns a
compreensão de um mundo injusto e cruel, alimentada por muitos de nós.
O livro pode ser feito dowloand. Está em pdf. Boa leitura.
PROF. VERAMONTEIRO, Primavera 2014