Este curso me remeteu infelizmente a inúmeras agressões
psicológicas e físicas que já presenciei em inúmeras escolas, nestes meus 14
anos de passagem por este espaço e o papel social, formador a nós direcionado dentro de nossa escola, sociedade.
Infelizmente, não é somente agressão estudante x
estudante; estudante x professor; mas também, professor x estudante; professor
x professor, professor x gestores; gestores x professores, pais x estudantes;
pais x professores/gestores/educadores,... Enfim, uma indisciplina bem abrangente.
Assim, ao ler sobre a Indisciplina na sala de aula, me
chamou a atenção, os adultos, educadores, promovendo a indisciplina, em um
artigo escrito por Luiz Alberto Oliveira
Gonçalves/ Diálogo com
docentes acerca da violência em meio escolar. In: ANAIS DO I
SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais Belo
Horizonte, novembro de 2010. (Publicarei site e partes no veja mais...)
É estranho pois ouvimos sempre do ponto de vista do
estudante promotor de atos classificados como indisciplina. Porém não é incomum
vermos atitudes que estão atreladas aqueles que ministram suas aulas, dirigem (gestores), atuam nestas escolas,...
O Coordenador Pedagógico que grita, que anula todo um trabalho, que xinga, que tumultua, que causa intriga entre um membro e o outro, destacando aquele e perseguindo o outro, diminuindo-os, que faz fofoca, que leva e traz, que não faz uma mediação entre os conflitos, deixando estes avultarem, que não cumpre as suas atribuições com fidedignidade, que não cumpre o horário, entre outras ações, promove indisciplina.
Um Diretor que grita, que dita ordens, que xinga, que não ouve os colegiados da unidade escolar, que a lei é a imposta por ele, por exemplo, ele tem um horário que ele segue e todos os outros o horário que está determinado, homologado, que não aplica corretamente as verbas, que uns são os seus queridinhos, que somente um grupo tem voz, que o estudante nunca é ouvido e assim age com corporativismo, entre outras ações, promove indiscipliana.
Quando temos o ATE, inspetor de aluno, bedel que usa sua força de repressão em um canto da escola, que ameaça chamar o beltrano ou siclano todo poderoso para conter uma rebeldia, este comete indisciplina.
Já presenciei uma professora que ao voltar-se indignada por um giz perdido que atingiu suas costas perguntar a toda a sala: “Quem foi o CUZÃO que atirou este giz?!”, que fazia citações como vai escovar o dente que sua boca esta fedida para dirigir-se a mim, entre tantos outros.
E infelizmente não são casos isolados, são casos decorrentes,
como usar palavras de baixo calão, gritar, insultar, fazer piadinhas, humilhar,
julgar e sentenciar seu presente, seu futuro, destratar, incomodar-se com a
presença de um aluno...Há casos que este comportamento estende-se aos
familiares. Claro que de forma isolada.
No caso que vivenciei e tomei uma postura deixando claro
a minha indignação e contrariedade de forma explícita, sofri muito, pois fui
colocada como alguém arruaceira, que toma partido de aluno, que não era
solidária a professora, que poderia perder meu cargo com acusações de trazer
transtornos a unidade, falta de cordialidade com a colega. A minha
inexperiência permitiu-me calar-me na página 15 de um livro de 30 páginas.
Medo!!!!
Mas a minha indignação era pelo corporativismo que
encontrei, onde todos enxergavam a atitude opressora da professora, sabiam que
ela estava errada e quem de fato deveria intervir não o fazia, ficando no campo
do deixa pra lá e a opressão rolando solta.
Hoje, publico para que possamos refletir até que ponto
não podemos estar sendo um instrumento de promoção daquilo que tanto nos aflige,
que nos angustia, a indisciplina a no meio escolar.
E alguém exclamará: “Somente quem está lá todos os dias sabe
o que realmente acontece”!!!! Queria ver você lá!!!
Porém, infelizmente atitudes que promovem indisciplina não
estão somente em relações que se concretizam entre adolescentes, jovens,
adultos, por relações desgastadas, doentes. Por vezes, encontramos a dissonância entre o ser mesmo com os que ainda
estão na mais tenra idade, com crianças e esta atitude, este agir parece estar
mais atrelado a sua personalidade do que o meio onde está inserido.
Então quando vejo uma mensagem pedindo aos alunos,
estudantes, educandos, dentre outros chamados, para respeitarem seus professores, me causa estranheza e sinto como uma chamada
mais propícia a todos que estão nesta relação.
Um respeito que alcance a TODOS!!! ESTUDANTES E PROFESSORES!!! PROFESSORES E ESTUDANTES!!! PROFESSORES E PROFESSORES!!! PAIS E ESCOLA!!!! COMUNIDADE ESCOLAR E COMUNIDADE NO ENTORNO!!!!!
Um estudante que me veja somente como uma professora que deve ser respeitado, por ser professora, me causa tristeza. Quero ser vista como gente que respeita e que merece respeito, gente igual ao que está ao seu lado, que vem a escola, que vai para casa, gente, gente, gente. Professora, Coordenadora Pedagógica é uma conquista e não mais um artifício para obter "privilégios".
Agora não podemos esquecer que em todos os campos da nossa sociedade existem REGRAS e estas nos orientam em um comportamento adequado para estarmos na rua, na igreja, em um hospital, na nossa casa, com nossos vizinhos. Por isso é inconcebível que a ESCOLA também não tenha em seu caminhar REGRAS NO AMBIENTE ESCOLAR, DISCIPLINA.
Obviamente não devemos confundir com CONDUTAS AUTORITÁRIAS OU CONSERVADORAS, AUTORITARISMO e sim caminharmos para um espaço que promova uma posição participativa de todos os envolvidos em uma postura crítica frente as regras, sabendo questioná-las se estas forem arbitrárias, inadequadas, antidemocráticas, desrespeitosas.
Por isso a DISCIPLINA QUE EDUCA, deve ser colocada como mais um passo que promove a ruptura das ações de pequenas gravidades, perturbações no ambiente escolar, violação das regras escolares, desobediências as regras de convivío, autoritarismo, situações que trazem consequências drásticas a integridade físicas e psicológicas, imediatas ou não a todos os envolvidos.
Não promova a indisciplina, por mais difícil que esteja a sua situação. Vejamos o que esta escola está promovendo para que se assole essa indisciplina que vai para o campo da violência. Vejamos o que podemos fazer dentro de uma proposta que discuta e faça valer o papel das regras no ambiente escolar.
E não adianta se dizer que o ECA Estatuto da Criança e do Adolescente é para passar a mão em leviandades pois, existem sim, esclarecimento quanto aos atos infracionais (quando protagonizados por adolescentes entre 12 e 18 anos) onde se coloca também medidas socioeducativas, ainda que estamos no país da impunidade em várias situações.
E antes de chegarmos a este e outros amparos legais, que façamos valer o nosso papel de educador em uma escolar que educa, promovendo com nosso trabalho, no coletivo ações que expurguem atos indisciplinares.
Assim que todos nós, possamos refletir e ver que estamos sujeitos ativos, gente, gente que acerta e gente que comete erros sim, mas antes de tudo, gente capaz de reverter situações e fazer-se promotor de um trabalho educativo, da socialização de todos nós.
Parafraseando Freire (1921-1997): "Ninguém disciplina ninguém, mas por outro lado nínguém se disciplina sozinho. Os homens se disciplinam em conjunto, intermediado pela realidade do mundo."
Inverno 2013, PROF. VERAMONTEIRO.
VEJA MAIS...
Diálogo com docentes acerca
da violência em meio escolar - Luiz Alberto Oliveira Gonçalves. In:
ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais Belo
Horizonte, novembro de 2010.
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16110&Itemid=936-pdf
- Acesso em 14.03.13.
Luiz Alberto Oliveira Gonçalves
Dada a complexidade do fenômeno e de suas articulações temáticas,
tratar-se-á, neste artigo, exclusivamente do tema da violência em meio
escolar, lembrando que, embora diferente do da agressividade e do da
indisciplina, esses fenômenos não estão totalmente dissociados. É difícil não
identificar traços de um dentro do outro. Muitos docentes, certamente, já
assistiram em sua sala de aula a um ato de indisciplina de seus alunos
(desrespeito a normas) transformar-se em um ato de agressividade e por vezes em
violência física. Assim como muitos alunos já viram docentes fazendo uso de uma
linguagem verbal agressiva (gritos e insultos), que aos poucos se transformou em
atos de humilhação, de discriminação e de exclusão. Para efeito de compreensão
do fenômeno usaremos o conceito de “violência em meio escolar” e não o de
“violência escolar”, como em geral se fala na mídia e nas conversas diárias. O
conceito foi cunhado por Eric Débarbieux (2002) para mostrar que esse fenômeno
“decorre da situação de violência social que atinge tanto a vida dos
estabelecimentos de ensino, sobretudo públicos, assim como pode expressar
modalidades de ação que nascem no ambiente pedagógico” (GONÇALVES & SPOSITO,
2002, p. 102).Professores (as), Autoridade, Autonomia e Violência
Nos últimos cinco anos, apareceram bons estudos que mostram como esse fenômeno se difundiu (SAMPAIO, 2005; KOHLER, 2003; PERES, 2005). Analisando o habitus de professores e professoras em escolas de ensino médio, Marilda da Silva (2005) observa, nas práticas de docentes em sala de aula, um tipo de violência que estes provocam tendo como foco os próprios alunos, tanto faz se são meninos ou meninas. A autora trabalha com o conceito de “violência psicológica” desenvolvido por Sonia Maria Ferreira Kohler (2003). Na sala de aula, essa violência pode ter diferentes manifestações. Ela ocorre, por exemplo, em situações em que o docente se põe a falar aos gritos, o que pode provocar intimidação ou reação do aluno de retribuir no mesmo tom. A violência pode aparecer quando o docente se serve do ato de “humilhar” os alunos fazendo comparações, se servindo de “imagens depreciativas” (KOHELER, op. cit).
Estudando os efeitos do conceito de masculinidade que perpassa a sociedade brasileira e que afeta principalmente a construção da identidade de jovens entre 15 e 18 anos, Valter Ude Marques analisou o uso de vocabulários depreciativos, sobretudo quando os docentes se dirigem a adolescentes do sexo masculino. Muitas vezes, para corrigi-los de um comportamento não desejável, os docentes os infantilizam na frente de toda sala ou, para fazerem valer uma de suas regras, usam palavras ofensivas em tom de brincadeira, achando que isso os aproxima da turma. (UDE, 2007).
O mais dramático em todas essas possíveis cenas de humilhação é o fato de que nós, professores, podemos praticar atos ofensivos sem termos consciência de que eles são violentos. Kohler frisa esse aspecto em seu estudo. Para ela, na maior parte das situações, os docentes não entendem que suas atitudes podem ter impacto negativo no comportamento dos alunos.
Certa feita, conversando sobre esse tema com professores do ensino médio que lecionam em uma escola pública de um bairro da cidade de Belo Horizonte, ouvimos depoimentos que refletiam sua indignação com a atitude dos adolescentes em sala de aula.
Sobre sua própria atitude, disse uma professora de Biologia
- Grito mesmo! O que eles tão pensando? Ainda se fossem criancinhas, dava até para deixar passar, mas não são (...) são cavalões e dissimulados. Se eu baixar a voz, aí que eles montam mesmo. Acho que temos que nos impor, sim. Mostrar autoridade. Isso é uma maneira de educar, de colocar limites. Não sei por que o sr. está nos perguntando se isso é violência. Para mim não é, sou enérgica, o que é muito diferente de ser violenta. Na minha aula, eles ficam uma seda...
Veja como é difícil avaliar a atitude que professores podem tomar na sala de aula. Se você, que está lendo este artigo, tivesse de se posicionar quanto à atitude da professora de Biologia que grita com os alunos e não vê isso como uma violência, mas como uma forma de impor limites, de mostrar quem tem autoridade, qual seria sua interpretação desse gesto? É violência como sugerem as pesquisadoras acima citadas? Ou é uma forma de se garantir a autoridade, por meio de uma fala enérgica, como nos quer fazer crer a professora?
Talvez conhecendo outras pesquisas, possamos avaliar um pouco mais essas situações de violência psicológica. Como o nosso objetivo é fornecer elementos para que nós, professores, possamos orientar nossas ações em sala de aula, pareceu-nos importante apresentar algumas evidências que foram detectadas em estudos com alunos do ensino médio para ver que contribuições elas poderiam nos dar para pensar a nossa prática docente.
Para esse fim, escolhemos uma pesquisa com dados que levantam questões acerca de práticas que têm sido adotadas com intuito de reduzir a violência em ambientes escolares. Trata-se de um estudo feito por Luis Sergio Peres (2005) no qual se analisa a percepção de estudantes do ensino fundamental e do médio quanto à prática de professores de Educação Física. Como se sabe, há uma crença de que as práticas esportivas poderiam ser um canalizador das tendências agressivas dos adolescentes, transformando-as em tendências agregadoras. Bastante difundida nos sistemas de ensino, essa ideia vem orientando muitos gestores educacionais em várias partes do país. Poderiam ser mecanismos de sociabilidade, capazes de fazer com que os adolescentes nelas envolvidos aprendam a respeitar regras, a aceitar as diferenças, a atuar em equipe, a entender que adversários não são inimigos, mas coadjuvantes de uma ação comum na qual todos são partícipes com chances iguais. Enfim, acredita-se que essas práticas em si contêm o germe da união. São por natureza produtoras de laços sociais.
Entretanto, a pesquisa de Peres vai nos mostrar algo mais complexo. As práticas esportivas, sejam elas escolares ou não, pressupõem relações sociais, logo, por si sós, de forma natural, essas práticas não produzem nenhuma sociabilidade. Quem promove a sociabilização são os atores em relação. É a qualidade dessas relações que produz os desejados laços sociais. Pensando essas práticas na escola a partir das aulas de Educação Física, Peres captou em sua pesquisa uma série de elementos que vão de encontro à crença acima citada. A coleta de dados se deu em três cidades do Oeste do Estado do Paraná. Dela participaram 18 professores(as) de Educação Física e 170 alunos(as) escolhidos aleatoriamente. Foram observados e submetidos a entrevistas e questionários. A análise dos dados aponta para o contrário da crença. As práticas pedagógicas dos(as) docentes estavam, respectivamente, eivadas de abusos de poder, de exclusão constante de alunos(as) desta ou daquela atividade.
O que mais marcou o pesquisador em apreço foi a agressividade no tom de voz dos professores(as) ao chamarem a atenção dos alunos(as), com gritos e até com palavrões. Assistiu inclusive a atos que desvalorizavam as capacidades de alguns estudantes. Por si sós, as práticas esportivas não produzem os laços esperados. Na realidade, elas, como qualquer outra prática pedagógica, dependem da qualidade das relações que se estabelecem entre docentes e estudantes. Estas, sim, podem ser as geradoras de atos de violência ou de laços sociais.
O grande problema é que, para que possamos compreender que as relações podem ser as geradoras de tensões ou, ao contrário, de entendimento e negociações, é preciso que nós, docentes, enxerguemos a sala de aula como um local de relações (SAMPAIO, op. cit., p. 13). Será que concebemos a sala de aula dessa forma? Você já pensou nisso quando está na sala com seus alunos? Veja como é importante pensar a sala de aula como um lócus relacional.
Segundo Pedro Vallejo Morales (2000), o modo como se processa nossa relação com os alunos pode incidir positivamente ou não tanto no seu aprendizado quanto na nossa satisfação profissional e pessoal (MORALES, op. cit, p.10). A relação professor-aluno em sala de aula, como lembra Julio Groppa Aquino (1996, p. 52), é o núcleo central do trabalho pedagógico, porque é com ela e por meio dela que o conhecimento se realiza. Para esse autor, as relações em sala de aula são compreendidas como um ato em conjunto, por isso ele vê as interações que ali ocorrem como momentos de negociação, ou seja, de mediação de conflitos, de possibilidade de fazer frente à violência, enfim como momentos de construção de laços sociais.
CURIOSIDADE CRUEL....
Embrião da Violência em Meio Escolar
No Brasil, por exemplo, há registros de historiadores da educação que mostram a existência de violência em meio escolar na segunda metade do século XIX (DALCIN, 2005). Entre os procedimentos adotados, destacou-se um em que se concedia aos professores o direito de usar práticas de maus-tratos em alunos que não se comportassem segundo o figurino. O procedimento ficou conhecido como método Lancaster, segundo o qual os professores tinham um kit básico com direito a tornozeleiras de madeira (embrião de algemas) para prender os alunos nas pernas das mesas, impedindo-os de se movimentar. E ainda uma coleira de madeira feita para prender os alunos pelo pescoço, atando-os nas carteiras imobilizando-os completamente. Fazia parte desse equipamento torturante um cesto enorme sustentado por cordas, dentro do qual o aluno insolente era posto, amarrado, e mantido suspenso no alto da sala para que fosse visto por todos como um exemplo de mau comportamento (FARIA FILHO, 1999). Acreditava-se que, com isso, aluno nenhum se atreveria a ousar em sala aula com seus mestres.
Muitos leitores deste artigo dirão: “mas isso foi no passado, hoje já não é mais assim”. De fato, os castigos violentos foram ficando mais “suaves”. Os instrumentos supracitados foram substituídos por palmatórias e joelhos no milho, que eram punições ministradas aos alunos, muitas vezes com o consentimento dos pais. Até esses desapareceram de nosso cotidiano. Com o avanço da legislação em favor dos direitos da criança e dos adolescentes (ECA), aumentou-se cada vez mais o controle da violência física infligida aos alunos no interior das escolas. Mas isso não significa que tenham desaparecido totalmente as formas coercitivas que, impingidas por professores aos alunos, produzem efeitos morais e psicológicos.